Próxima Degustação: "Castas Ibéricas - Portugal" (1ª Rodada: Dão e Douro)

Castas Ibéricas - Portugal (1ª Rodada: Dão e Douro)

Programa provável (ainda sujeito a sugestões e alterações): Quinta da Garrida 2000 (Dão), Quinta de Cabriz Colheita Selecionada 2004 (Dão), Brunheda Colheita 2000(Douro), Quinta dos Quatro Ventos 2002 (Douro) e Quinta do Crasto 2003 (Douro). Serão quatro ou cinco vinhos, dois de uma região e dois ou três de outra, a depender do número de confirmações.

Outras opções: Aliança Particular Dão 1997 ou 2000, Quinta das Tecedeiras 2001 (Dão), Dão Sul 2000, ou ainda substituir, por exemplo, o Douro pelo Alentejo (Quinta da Terrugem 2000, Monte do Pintor 2002, Cartuxa Colheita 2001...), mas quem sabe a dinâmica região do Alentejo não pode ser objeto de uma degustação exclusiva numa rodada próxima?

Tema literário: Fernando Pessoa.

Roteiro Musical: álbuns "Dois em Pessoa" (Renato Motha e Patrícia Lobato), "Música em Pessoa" (Vários), "Garras dos Sentidos" (Mísia) e "Palavras Cantadas" (Madredeus).

Local e Horário: Casa do Guedes, Sábado, dia 26 de agosto, a partir das 20h.

Investimento por pessoa: R$ 35.

Presenças já confirmadas: Édil, Flávia, Francesco, Mariana, Dôra, Rubner (e convidada). Máximo de participantes: 10 confrades.

Dicas da Confraria

Caros confrades, o espaço recém-nascido Dicas da Confraria (veja o link abaixo) dedica-se à livre troca de informações sobre o mundo dos vinhos. Visitem e deixem seus comentários, propostas, sugestões de boas compras, enfim, boas dicas de vinhos e companhia.

Endereço: www.dicasdaconfraria.blogspot.com

Malbec: a menina dos olhos argentina


Junto ao cabernet sauvignon e ao merlot, o malbec integra o grupo de vinhos do Medoc. Nessas terras, encontram-se os famosos “vinhos negros”, batizados assim devido à sua cor: rubros intensos, púrpuras e violetas exuberantes, que se destacam por sua estrutura tânica e corpulência.

Devido à singularidade e à qualidade alcançadas em solo argentino, o malbec figura como sua variedade mais emblemática. Trata-se de uma cepa versátil, com a qual é possível elaborar vinhos jovens, rosados, espumantes e também exemplares aptos à prolongadas guardas. Em sua cor destacam-se o rubro intenso, os matizes violáceos e anis, especialmente quando jovem. Para reconhecê-lo por seus aromas, recordamos o cheiro de ameixas muito maduras ou o de marmelada de amora. Na boca, o vinho se expressa em todo seu esplendor; se é jovem, apenas uma agradável aspereza impressiona o paladar; se já tem alguns anos, é um vinho maduro, apresentando grande complexidade. Seu romance com a madeira lhe oferece aromas e sabores de chocolate, baunilha, couro e café.

Malbec de caráter jovem: com elegante expressão frutada e notas florais típicas (violetas), alegres e vivas na boca e com retrogosto médio.

Malbec com maturação discreta em madeira (de três a quatro meses): vinho de corpo pleno embora ainda sem as complexidades daqueles que descansam mais em barrica.

Grande Malbec: com tempo em barrica inferior a 10 meses. Tinto maduro, complexo e muito bem estruturado.

Fontes:
MaCNEIL, Karen. The Wine Bible. New York: Workman Publishing, 2001, p. 847-860.
Fondo: Vitivinícola Mendoza - acessado em 17 jul. 2006.


Argentina: dizem que o Gigante despertou


Pode-se dizer, com certa dose de exagero, mas sem faltar à veracidade de seu passado, que ao longo de eras a vitivinicultura argentina permaneceu adormecida. Considerada o quinto produtor mundial de vinhos, a Argentina, até há décadas recentes, pouco ou nada era conhecida internacionalmente por sua produção vinícola, embora o consumo anual da bebida atingisse impressionantes 26 galões per capita – cada galão corresponde a 3,785 litros. Um parâmetro pode ser encontrado no consumo norte-americano, já estacionário há décadas, em que cada pessoa bebe entre um e dois galões e meio ao ano.

Os vinhos argentinos, portanto, além de rústicos, de pouca qualidade e muito baratos, eram voltados estritamente ao consumo interno. De certa forma essas características podem ser atribuídas aos imigrantes europeus que lá chegaram no século retrasado, para quem o consumo de vinho fazia parte do dia a dia de sua mesa. Entretanto, nos anos noventa, ao longo de um período conturbado política e economicamente, as vinícolas, ávidas por capital e novos mercados, iniciaram um processo de refinamento de qualidade, moldando seus vinhos às características do mercado internacional, e exportando-os, principalmente para os EUA e Reino Unido. Os argentinos, assim, encontraram inspiração em seu vizinho Chile, que já havia virtualmente reinventado sua indústria vinícola. Em 1994, a Argentina exportava 389 mil galões de vinho para os EUA. Quatro anos mais tarde, essa quantia já se multiplicava em 3,3 milhões de galões. Atualmente, a Argentina mantém-se na quinta posição mundial em produção de vinho e em oitavo lugar no consumo, em que cada cidadão argentino consome uma média de 10,4 galões da bebida ao ano.


Da “uva francesa” ao Malbec

Às latitudes argentinas, o malbec chegou em meados do século XIX pelas mãos do francês Michel Aime Pouget, que junto a outros imigrantes europeus fundaram a vitivinicultura argentina com as variedades que trouxeram de suas terras natais. A bem da verdade, MacNeil lembra que os missionários e descobridores espanhóis foram os primeiros a trazer suas cepas consigo do Velho Mundo ou de excursões ao Chile e Peru, séculos antes. Dessas cepas surgiram três variedades, semelhantes entre si e produtoras de um vinho bastante rústico: Argentina’s criolla, Chile’s pais e California’s mission. Enquanto as duas primeiras constituíram a base fundadora da produção vinícola da América do Sul durante trezentos anos, a terceira tornou-se a variedade tinta líder na Califórnia, até a chegada da phylloxera, nos anos de 1890.

Nesses momentos iniciais de atividade, os viticultores reuniram diferentes cepas sob o nome genérico de “uva francesa”. Mais tarde, quando começaram a diferenciar algumas variedades, esta denominação tornou-se apenas malbec. Os precursores plantavam seguindo a tradição européia: a cada seis mudas de malbec, uma da variedade Semillón Blanc. Deste modo, elaborava-se um corte que equilibrava a grande concentração de cor do malbec e removia sua marcante aspereza carregada pelos taninos.

Iniciado nos anos 80, a Argentina sofreu um intenso processo de erradicação das vinhas de malbec, sobretudo as mais antigas, com mais de meio século de idade, a fim de priorizar uma cepa de melhor qualidade e rendimento. Em pouco tempo, sua vitivinicultura reestruturou-se, o consumo interno de vinhos comuns, até então muito expressivo, foi gradualmente perdendo espaço para os vinhos finos, como os feitos de malbec e de cortes envolvendo esse varietal. Atualmente, a área argentina de cultivo do malbec é a maior do mundo, cobrindo 16 mil ha. Na França, por exemplo, existem 5 mil ha e na Califórnia, apenas 45 ha.

Usando técnicas de irrigação, aprendidas com os incas, ao drenarem água da neve dos cumes montanhosos, em solo argilo-pedregoso, de boa drenagem, com temperaturas elevadas ao dia e amenas à noite, os produtores encontraram ao largo do cordão da Cordilheira dos Andes a proteção e o oásis perfeito para a produção de seus vinhos. A noroeste, entre 1750 e 2300 metros acima do mar, produzindo malbecs bravios e corpulentos, estão Cafayate, Yacochuya, Las Viñas e San Carlos. Mais ao sul, Chilecito, em La Rioja, e os privilegiados Valles de Tulum, Ullum, Zonda e El Pedernal, em San Juan, elaboram exemplares originais desse varietal. Entretanto, o ecossistema de Mendoza é o paraíso do malbec. A chamada primeira zona ou zona alta do rio Mendoza (Maipú, Luján de Cuyo), San Rafael e o Valle de Uco oferecem alguns dos mais reconhecidos vinhos a nível nacional e internacional. Finalmente, até mesmo a Patagônia também existe para a cepa argentina bandera, sobretudo nos promissores terrenos do Alto Valle del Río Negro.

Fontes:
MaCNEIL, Karen. The Wine Bible. New York: Workman Publishing, 2001, p. 847-860.
Fondo: vitivinícola Mendoza - acessado em 17 jul.2006

veja mapa postado pelo Flávio




Próxima Degustação: "A Malbec e a Argentina" (1ª Rodada)

Aos amantes do vinho

Estamos publicando a relação dos vinhos para a nossa próxima degustação dedicada à uva Malbec. Nosso novo encontro terá duas etapas, sendo a primeira ligada à degustação tradicional na qual avaliaremos (às cegas) 4 dos vinhos apresentados. Em seguida, a degustação dos demais vinhos será deixada às mãos descompromissadas de Dionísio. Essa parte terá um caráter similar ao de um sarau. Convidamos a todos para que tragam poemas de autores queridos ou de próprio punho para leitura.

A reunião será realizada no dia 22 de julho, sábado, às 19 horas. O investimento para o nosso encontro é de 30 reais.

MALBEC

Famiglia Bianchi 2004
Produtor: Valentin Bianchi
Barrica: 10 meses
Origem: San Rafael, Mendoza
Teor Alcólico: 14,9%
Site: www.vbianchi.com

Callia Alta 2005
Produtor: Bodegas Callia
Barrica:
Origem: Valle de Tulum, San Juan
Teor Alcólico: 14%
Site: www.bodegascallia.com

San Telmo 2004
Produtor: Bodega Cruz de Piedra
Barrica:
Origem: Mendoza
Teor Alcólico: 13,5%
Site: http://www.bodegacruzdepiedra.com.ar/

Alamos 2004
Produtor: Bodega Catena Zapata
Barrica: 9 meses
Origem: Mendoza
Teor Alcólico: 13,7%
Site: http://www.nicolascatena.com/

Luigi Bosca D.O.C 2003
Produtor: Bodegas y Viñedos Leoncio Arizu
Barrica:
Origem: Juan de Cuyo, Mendoza
Teor Alcólico: 14,5%
Site: www.luigibosca.com.ar

MALBEC MERLOT

Callia Magna 2004
Produtor: Bodegas Callia
Barrica: 8 meses
Origem: Valle de Pedernal, San Juan
Teor Alcólico: 14,5%
Site: www.bodegascallia.com


Mapa das Regiões Produtoras de Vinho na Argentina

Confirmar presença pelo próprio blog, preferencialmente. Máximo de participantes: 10.

Degustação "Castas Ibéricas - Tempranillo" (Fotos)




Degustação "Castas Ibéricas - Tempranillo" (1ª Rodada): Resultados

A quarta degustação de nossa Confraria ocorreu no dia vinte de maio, das 20h à 1h30min, na Casa do Guedes, e teve como tema a uva Tempranillo, destacando-se numa primeira rodada os vinhos da sua terra natal, a região espanhola de Rioja, em cuja composição ela entra de forma amplamente majoritária. As diversas faces desta cepa e a grande riqueza vitivinícola da Península Ibérica serão objeto de nossa apreciação em outras tantas oportunidades.

Vinhos: Don Román 2003 (Unión de Viticultores Riojanos – Rioja Alta/Espanha), Fortaleza do Seival Tempranillo 2005 (Miolo – Campanha Gaúcha/Brasil), Marqués de Tomares Crianza 2001 (Unión de Viticultores Riojanos – Rioja Alta/Espanha), Marqués de Riscal Reserva 2000 (Herederos del Marqués de Riscal – Elciego-Rioja Alavesa/Espanha), Marqués de Arienzo Reserva 1999 (Bodegas Domecq – Rioja Alavesa/Espanha).

Confrades presentes: Édil Guedes, Flávia Guedes, Igor Maia, Alexandre Guimarães, Denise Leiva, Myla Fonseca, Flávio Souza Cruz, Francesco Botelho e Mariana Botelho.

Os resultados da degustação:

1) Marqués de Riscal Reserva 2000 – 91 pontos (*****).
2) Marqués de Arienzo Reserva 1999 – 88 pontos (****).
3) Marqués de Tomares Crianza 2001 – 88 pontos (****).
4) Don Román 2003 – 84 pontos (***).
5) Fortaleza do Seival 2005 – 73 pontos (**).

Comentários:

I. A degustação dividiu-se em duas etapas. Separamos os vinhos sin crianza, os vinhos jovens. Na segunda série, os de longa maturação em barricas e em bodega, na própria garrafa. A ordem dos vinhos provados às cegas revelou-se a seguinte: Don Román 2003, Fortaleza do Seival 2005, Marqués de Tomares Crianza 2001, Marqués de Riscal Reserva 2000, Marqués de Arienzo Reserva 1999

II. A média de 85 pontos (****), nível ótimo, foi a maior registrada em nossos encontros.

III. O vencedor da noite desta vez não foi uma surpresa: produto da mais tradicional vinícola da Rioja Alavesa, o clássico Marqués de Riscal Reserva (Elciego), da safra de 2000, recebeu da Confraria do Guedes 91 pontos (excelente), a mais alta pontuação de nossas reuniões até então. Cinco dos nove presentes lhe conferiram notas acima de 90. Foi o segundo desvio-padrão: 4,24 pontos. Realmente, um belíssimo vinho, digno de sua tradição e fidelíssimo representante da qualidade e tipicidade riojanas. Relação custo/benefício (preço/nota): 1,02. Características organolépticas, segundo anotações dos presentes: “Cor rubi mais clara, violácea, com halo levemente amarelado, de alguma evolução (sugere longevidade); buquê muito expressivo e sofisticado: tabaco, canela, defumado, fruta madura, algo de açúcar queimado; na boca, bastante elegante, confirmando amplamente as impressões olfativas, bela acidez e boa estrutura; final excelente e longo, com certa adstringência (parece mesmo ter estrutura para mais um bom tempo de garrafa)” (EG); “Vinho intenso em aroma e sabor, com traços de evolução e com um toque animal. Boa evolução!” (IM); “Frutas vermelhas, aroma muito intenso, exuberante, um vinho Rioja com certeza!” (MF). Dados técnicos: uvas procedentes de vinhedos de 15 a 30 anos de idade (90% Tempranillo, 10% Graciano e Mazuelo); 23 meses de crianza em barricas de carvalho americano, engarrafado em janeiro de 2003, e permanece pelo menos mais 13 meses na bodega antes de chegar ao mercado; graduação alcoólica: 13°.

IV. Em segundo lugar, apesar de um empate em 88 pontos (ótimo), o Marqués de Arienzo Reserva 1999, vinho de elite das Bodegas Domecq, teve a preferência de um dos presentes (Flávio) e ficou na segunda posição para cinco (Francesco, Mariana, Myla, Igor e Alexandre). Recebeu 90 ou mais pontos de duas pessoas (Mariana e Alexandre) e teve também o menor desvio-padrão: 3,16 pontos. Anotações das características organolépticas: “Vinho de fruta expressiva, não tão persistente em boca, equilibrado e que já está pronto” (IM); “Cor rubi com halo alaranjado (maior evolução), aroma de doce (geléia) e azedo (fruta vermelha fresca: cereja), maçã vermelha madura, aromas terciários, tostado ao fundo (mas predomina a fruta); no paladar, bom nervo, boa acidez, o sabor confirma as impressões olfativas. Final bem agradável, de longa persistência” (EG); “O vinho mais equilibrado de todos; lembra um pinot noir pouco envelhecido” (MF). Dados técnicos: uvas Tempranillo (95%), Graciano e Mazuelo (5%); 24 meses de crianza em barricas de carvalho americano, permanece pelo menos mais 12 meses na bodega antes de chegar ao mercado; graduação alcoólica: 13°.

V. Também em segundo lugar, com 88 pontos, o Marqués de Tomares Crianza 2001. Este vinho foi considerado o melhor para uma das presentes (Denise), ficou com a segunda colocação para outros dois (Édil e Flávia, que o consideraram excelente) e com a terceira na avaliação de Igor, Alexandre e Myla (que o consideraram ótimo). O desvio-padrão das notas foi um pouco maior: 6,7 pontos. Ótima razão custo/benefício: 0,37. Descritores organolépticos: “Rubi cristalino com halo alaranjado-castanho, denotando evolução; buquê elegante, rico: fruta vermelha (amora, morango), ameixa, muito equilibrado com os aromas terciários aportados pela criação em carvalho americano (baunilha, tostado, especiarias); na boca confirma o buquê, tem bom nervo e uma vinosidade marcante e agradável (elegância); belo final” (EG); “Cor rubi querendo ter alguns reflexos, baunilha, tostado e muita fruta madura” (IM); “Frutas vermelhas frescas mais intensas, vinosidade agradável, final levemente tostado” (MF); “não muito intenso, certa acidez, equilibrado, ótimo com comida” (AG). Dados técnicos: uvas procedentes de vinhedos de mais de 25 anos de idade (90% Tempranillo, 7% Mazuelo e 3% Graciano); 12 meses de crianza em barricas de carvalho americano (uma trasfega, com 6 meses), fica em seguida por 30 a 40 dias em cubas de inox antes de ser engarrafado e envelhece na garrafa em bodega por pelo menos mais 14 meses (as primeiras garrafas que vão ao mercado, pois as últimas permanecem 26 a 27 meses); graduação alcoólica: 13,5°.

VI. O Don Román 2003 ficou em quarto lugar com 84 pontos, mas destacou-se para boa parte dos presentes, especialmente pela relação custo/benefício: 0,31. Desvio-padrão das notas: 3,77 pontos. Anotações: “cor rubi intensa, com leves toques violáceos; buquê agradável, não demasiado complexo, mas intenso (coco, café, tostado, fruta madura, uva passa, leve toque de especiarias); na boca confirma pouco as impressões olfativas, é pouco expressivo, mas é fácil de beber; bom final, mas curto; evolui pouco no copo” (EG); “Um vinho bom em aroma; na boca bem equilibrado, um pouco vivo. Bem balanceado” (IM); “Leve, gostoso, mas com persistência alcoólica” (FSC); “Aroma de frutas secas e torrefação (média), leve em especiarias, herbáceo, toques de madeira” (MF); “Cheiro maravilhoso” (AG); “Bom para comida” (MB). Dados técnicos: uvas Tempranillo (90%) e Mazuelo (10%); 55% da maceração é carbônica; 3 meses de estágio em barricas de carvalho americano, envelhecendo na garrafa por pelo menos 9 meses antes de ser comercializado; graduação alcoólica: 13°.

VII. A grande decepção da noite foi o Fortaleza do Seival Tempranillo 2005, com 73 pontos. O da safra anterior andou se saindo muito bem em degustações às cegas diante de vinhos reputados feitos com esta uva e foi um sucesso de vendas, esgotando-se muito rapidamente. Mesmo exemplares desta nova safra já tiveram boa avaliação em revistas especializadas e já foram degustados por três confrades (Édil, Flávia e Igor) confirmando as impressões registradas do 2004. Mas, como diz o jornalista e crítico de vinhos Saul Galvão, “o mesmo vinho pode ser diferente até de garrafa para garrafa”. De fato, cada garrafa tem a sua história. Mas nesta não havia propriamente defeitos, como oxidação, vinho bouchonné ou coisa afim. Apenas, unanimemente, o vinho foi considerado muito pouco expressivo, especialmente nos aromas, mas também no conjunto do paladar, ficando muito aquém do nível dos riojanos provados. Anotações dos confrades: “Um vinho pleno na boca e em aroma demora mais para abrir. Já tomei? Só que estava muito melhor...” (IM) “Mais ácido do que o primeiro [Don Román], algo dissonante, vinho jovem, baunilha, ameixa seca” (MF); “horrível, não tomaria nunca mais” (FSC); “curto” (MB); “fraco” (AG); “Cor rubi escura, retinto; Nos aromas, baunilha, algo de condimento (ardido), coco fresco, vinosidade, algo de geléia (com a evolução no copo), pouco intenso; no paladar, equilibrado, boa acidez, mas não muito expressivo; retrogosto com razoáveis qualidade e persistência” (EG). Dados técnicos: 30% do vinho envelhece em barricas de carvalho americano, o restante em cubas de aço inox.

VIII. Notas já atribuídas a estes vinhos por outras publicações, sites e críticos: Marqués de Riscal Reserva 2000: 87 (Wine Enthusiast: www.winemag.com); “um clássico da enologia espanhola... revela-se complexo, elegante, com um fundo tostado” (Revista Gula – Vinhos do Ano 2005); **** a ***** (Saul Galvão – Guia de Tintos e Brancos); 85+ (Guía Penin); 85(Guía Proensa: “Clásico y de amplio espectro, claramente situado en su entorno riojano histórico”); Marqués de Arienzo Reserva 1999: **** (Saul Galvão – Guia de Tintos e Brancos); 80+ (Guía Penin); Marqués de Tomares Crianza 2001: 88 (Wine Enthusiast: “An example of a well-made, lightweight red that puts clarity and freshness ahead of bulk and oak”); um dos 10 melhores Rioja da safra de 2001, segundo a lista do crítico Eric Asimov, no New York Times; “frutado denso e bem acabado.. bem entremeado com a madeira... um Rioja limpo e bem-arrumado” (Revista Gula – Vinhos do Ano 2005); Don Román 2003: “um dos melhores nesta faixa [de preços]” (Revista Gula – Vinhos do Ano 2005); Miolo Fortaleza do Seival Tempranillo 2005: não há registros para esta safra. Sobre o vinho da safra anterior (2004): *** (Vinho Magazine); “Excelente Compra” (Guia de Vinhos 2005 – Revista Gula); “Aromas intensos... limpo no nariz e na boca... sedoso e fino. Sinal muito alvissareiro da nova viticultura brasileira” (Revista Gula – Vinhos do Ano 2005).

Preços:

Marqués de Riscal Reserva 2000– R$ 97,90(Carrefour- BH)
Marqués de Arienzo Reserva 1999 – R$ 66,90 (Verdemar - BH)
Marqués de Tomares Crianza 2001 – R$ 32,90 (Verdemar - BH)
Don Román 2003 – R$ 25,90 (Verdemar - BH)
Fortaleza do Seival 2005 – R$ 22,90 (Verdemar - BH)

As Riquezas da Tempranillo

Esta que é a mais nobre casta ibérica e uma das mais expressivas do mundo atende também por cerca de trinta sinônimos. É conhecida como Tinta del País ou Tinto Fino em Ribera del Duero, Espanha, onde se reproduzem seus clones mais concentrados. Já em Portugal, onde divide com a Touriga Nacional o papel de protagonista nas principais regiões produtoras, conhece-se principalmente por Tinta Roriz (Dão e Douro) e Aragonez (Alentejo). Mas a região espanhola de Rioja, cujos excelentes vinhos se compõem majoritariamente desta cepa, é sem dúvida a principal responsável por sua consagração. No conjunto das três sub-regiões riojanas, constitui 76% das tintas plantadas, mas na menor e melhor delas, a Rioja Alavesa, situada no País Vasco, corresponde a 96% das uvas tintas, o que se representa no corte tradicional que compõe seus vinhos. O nome Tempranillo, que provem de “temprano” (cedo), remete a sua maturidade precoce (amadurece duas semanas antes da Garnacha, a uva escura mais plantada na Espanha e no mundo). Tem tendência a altos rendimentos, mas um rígido controle para limitá-los (45,5 hl/ha em Rioja) é condição intransigível para a garantia de sua ótima qualidade.

Pinot Noir e Tempranillo

Assim como a Pinot Noir, a Tempranillo depende muito do terroir (conjunto dos solos e subsolos, macro e microclima) para definir seu caráter. O frio lhe confere elegância e acidez, mas o calor contribui com o grau de açúcar e a maior espessura da casca, predicado que garante a cor e o frutado intensos de seus vinhos. Um solo calcário produz um vinho com mais equilíbrio e nervo. Este já será mais encorpado ou mais suculento e frutado se o solo for argiloso ou xistoso. Os vinhos jovens trazem em seu aroma muita fruta vermelha (cereja, framboesa, morango). Já os longamente maturados em barricas usadas de carvalho americano (estilo riojano tradicional) apresentam um rico buquê com presenças de tabaco, couro, café, especiarias, ameixas e figo e são bastante longevos. Muitos provadores experientes reconhecem as afinidades existentes entre as grandes tintas borgonhesa e riojana. Segundo José Osvaldo Amarante , a Tempranillo “deve ter um ancestral comum com a Pinot Noir, pois velhos Rioja são difíceis de diferenciar de velhos Bourgogne”. De fato, há a teoria (para muitos, lenda) de que a cepa teria sido levada por peregrinos da França para o Norte da Espanha, mas não há qualquer confirmação histórica. Outros estudos recentes também desmentem tal parentesco, senão pela real parecença gustativa, e confirmam a Tempranillo como uva autóctone riojana.

Os vinhos de Rioja

Além da Tempranillo, entram minoritariamente no corte do vinho riojano a Garnacha, para dar volume e álcool, a Graciano, para acrescentar cor e complementar a acidez, e a Mazuelo, conferindo ao vinho taninos e corpo para ampliar a sua capacidade de envelhecer. Segundo a legislação, são quatro tipos (concentro-me nos tintos):

Básico: máximo 12 meses em barricas.
Crianza: mínimo 12 meses em barricas de 225 litros; pelo menos 24 meses em bodega.
Reserva: mínimo 12 meses em barricas de 225 litros; pelo menos 36 meses como total de estocagem.
Gran Reserva: mínimo 24 meses em barricas e 36 meses em garrafa (60 na bodega).

Realizam-se muitas trasfegas durante o processo clássico de criação (crianza), o que resulta em vinhos mais claros, de corpo médio, bom nervo, perfumados, longos e elegantes. Mas há muitas vinícolas abandonando o estilo e a classificação tradicionais, optando por seguir a “corrente mundial” e “parkerizando” seus vinhos, que se tornam mais escuros, encorpados e frutados. J. O. Amarante critica lucidamente esta triste homogeneização: “Adoro ambos os estilos, contudo torço enormemente para que o tradicional também seja preservado, pois ele é único no mundo! Infelizmente, há uma tendência cada vez mais acentuada para padronizações draconianas, a fim de agradar ao gosto algo unidirecional de um famoso crítico de vinho”.

A Tempranillo na América do Sul

Na Argentina, embora seja a quarta uva mais plantada no país, os seus varietais são coisa recente. De todo modo, poucos vinhos conseguem expressar suas qualidades em plenitude. Exceções são o pioneiro Família Zuccardi “Q” (o primeiro 100% Tempranillo a chegar ao mercado, em 1993) e os vinhos de corte em que a uva ibérica é protagonista, O. Fournier A-Crux (70% Tempranillo) e B-Crux (85% Tempranillo), ambos completados com Malbec e Merlot. Outros varietais bastante acessíveis e de boa qualidade são o Benjamin Nieto Senetiner e o Santa Julia Oak Aged.

No Brasil, o primeiro varietal, resultante da ótima safra de 2004, veio apenas em 2005, mas felizmente com extremo sucesso. Mais uma vez pioneira, a Miolo lançou a linha Fortaleza do Seival, da nova e promissora região vinícola da Campanha Gaúcha. O seu Tempranillo, resultante de dois clones portugueses e um espanhol, recebeu a indicação de “Excelente Compra” no Guia de Vinhos Gula de 2005 e esteve entre os Vinhos do Ano na edição de janeiro da revista: “sinal muito alvissareiro da nova viticultura brasileira, localizada na promissora fronteira com o Uruguai”. Também um vinho premium recém-lançado pela mesma vinícola, o Quinta do Seival Castas Portuguesas, traz a Tinta Roriz (Tempranillo) em corte com a Alfrocheiro e a Touriga Nacional, estagia em carvalho novo francês por cerca de dez meses, e vem tendo destino semelhante. Todo este processo contou com a ajuda do reputado enólogo português Virgílio Loureiro, autor do Quinta de Cabriz, no Dão.

Fontes:

Larrousse do Vinho. São Paulo: Larousse do Brasil, 2004.
Amarante, J. O. A. Os Segredos do Vinho para Iniciantes e Iniciados. São Paulo: Mescla, 2005
Galvão, Saul. Guia de Tintos e Brancos. São Paulo: Códex, 2004.
Revista Wine Style, números 3 e 5.
Revista Gula, Edição Especial n°14 e números 130 e 159.
http://www.decanter.com
http://www.wineloverspage.com
http://www.winepros.orghttp://www.wineloverspage.com
http://www.winepros.org

Castas Ibéricas - Tempranillo (1ª Rodada: Rioja e América do Sul)

Programa: 3 ou 4 vinhos de Rioja–Espanha (dentre os quais, dois Reserva), e 1 ou 2 vinhos sul-americanos de tempranillo, totalizando 5 vinhos a degustar. Entre os mais prováveis, os riojanos Marques de Riscal Reserva 2000, Marques de Arienzo Reserva 1999, Marques de Tomares Crianza 2001, Don Román 2003, e os sul-americanos Benjamin Nieto Senetiner 2005 (Argentina), Fortaleza do Seival 2005 (Brasil), Santa Julia Tempranillo Oak Aged 2000 (Argentina). A definição do programa, para caber no orçamento, dependerá do número de presenças confirmadas.

Roteiros gastronômico, musical e literário: a definir, brevemente.

Local e Horário: Casa do Guedes, Sábado, dia 20 de maio, a partir das 19h30min (ou a hora que a Gabi deixar, que pode ser um pouco depois).

Investimento por pessoa: R$ 35.

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Merlot – Algumas Notas

A uva Merlot é hoje a tinta mais plantada em Bordeaux, sua região de origem. Se no Médoc é a principal coadjuvante da Cabernet Sauvignon na composição dos principais vinhos, ela figura de longe como protagonista em Saint-Emilion (75% dos vinhedos) e, principalmente, em Pomerol (também três quartos da superfície plantada), onde é responsável por cerca de 95% do ilustre Château Pétrus, em corte com a Cabernet Franc. Descende, segundo estudos recentes, de cruzamento desta última cepa e outra variedade ainda desconhecida. Origina vinhos muito macios, aveludados, com acidez moderada, bela expressão aromática e boa complexidade. Apesar de terem grande intensidade de taninos, os vinhos feitos com a Merlot normalmente ficam prontos mais cedo e podem ser bebidos com pouco tempo de garrafa (esta é também a característica de muitos vinhos de Pomerol, se bem que os melhores possam enriquecer muito com um longo amadurecimento). No Rio Grande do Sul, com 30,6% do total (segundo dados da Uvibra relativos ao ano de 2002), também é a tinta mais cultivada, e nas palavras de Saul Galvão, em seu Guia de Tintos e Brancos, tem rendido “vinhos realmente muito bons”. Sobre o filme Sideways (vejam o post da Myla), alguns comentários. Trata-se, por certo, de um longa-metragem muito divertido. Mas essa história de o protagonista só conseguir afirmar a sua condição “intelectual” opondo-se infantilmente ao “gosto popular”, elegendo a Pinot Noir como objeto de sua devoção e a Merlot como objeto de sua ojeriza, é algo que não se sustenta nem no próprio roteiro. Como se viu, o “vinho da vida” do sujeito é o premier grand cru classé Château Cheval Blanc, de Saint-Emilion – aquele, da lanchonete! Pois bem. Este famoso vinho é um corte de duas uvas: Cabernet Franc (outra desdenhada por Miles no filme) e... Merlot. Curioso, não?


"The Sideways Effect"

Sideways (diretor: Alexander Payne, 2004), vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado e de seis troféus no circuito de cinema independente americano - The Independent Awards - influencia um mercado que movimenta US$20 bi por ano, o dos vinhos americanos. Quem assistiu ao filme, já sabe do que estou falando. O protagonista, um professor deprimido e neurótico mas apaixonado por vinhos (Paul Giamatti), detesta merlot, os vinhos mais populares nos Estados Unidos nos últimos 15 anos, e adora os pinot noir, até então um rival muito menos favorecido.

Numa viagem com um amigo por uma região vinícola perto de Los Angeles, Miles, o personagem de Giamatti, apaixona-se por uma estudante (Virginia Madsen) e declara a ela que o bouquet do pinot é "o mais assombroso e brilhante e excitante e sutil e... antigo no planeta". E se recusa a beber o merlot com um sonoro palavrão. Resultado: entre outubro (2004), quando Sideways foi lançado nos Estados Unidos, e janeiro (2005), quando o filme recebeu o prêmio dos críticos de cinema, as vendas de merlot caíram pela metade no oeste americano. Em contrapartida, as vendas de pinot noir através do país se multiplicaram e muitos apreciadores de vinho trocaram o pinot francês pelo californiano. This is what the American wine industry called the Sideways effect.

Pinot é uma uva difícil de se acertar, como já foi mencionado no post do Edinho e também no meu. Por causa disso, muitos críticos costumam aconselhar: "Você estará melhor com um merlot barato e seguro do que com um pinot barato, mas sem segurança." Miles pediria perdão por discordar. Ele passa parte do filme instruindo Jack (Thomas Haden), o amigo bobão que está prestes a se casar, sobre a fraqueza da uva merlot e as virtudes da pinot noir. A ponto de, antes de um jantar, avisar: "Se alguém pedir merlot, vou embora. Não vou me juntar ao lado negro."

Como já descobri, vinho, política e religião não se discutem. Espero que através dessa seqüência de varietais - cabernet sauvignon, pinot noir e merlot - proporcionada com tanto carinho pela Flávia e pelo Edinho, em nossos encontros na Confraria, cada um saboreie avidamente essas experiências e tire suas próprias conclusões. Como todos somos fãs de cinema, aí vai a opinião do grande Francis Ford Coppola. Entusiasta das variedades merlot e cabernet da região de Napa Valley, Califórnia, ele respondeu num resmungo à pergunta sobre o que achava do "efeito Sideways": "Bebo pinot noir, adoro os melhores, mas não vou incentivar isso. É tudo um truque".
Será? É o que vamos conferir - deliciosamente - nessa próxima degustação.


Merlot: breve perfil

Essa cepa de uva é prima do cabernet sauvignon. Possui um sabor bem similar a esse embora apresente características taninicas mais leves e seja também levemente mais herbácea - leia-se: ervas - tanto no aroma quanto no sabor.

O amadurecimento é um ponto crítico e é justamente por amadurecer mais rapidamente que o cabernet que o merlot se afasta de um sabor frutado e segue em direção à um sabor e aromas mais herbáceos.

A acidez natural e a adstringência do merlot são menos presentes do que no cabernet (talvez por isso que os caipiras da América do Norte gostem tanto - como já ficou claro, trata-se de um vinho mais leve em vários sentidos, deixando no paladar "uma boca mais viçosa").


Descrições típicas de aroma e sabor:

Varietais aromas/sabores:
(1) Frutado: groselha, cereja, ameixa
(2) Floral: violeta, rosa
(3) Tempero: caramelo, cravo-da-índia, folha de louro, pimenta verde
(4) Ervas: pimenta, azeitona verde
Bouquets processados/sabores:
(1) Levemente amadeirado: baunilha, côco, madeira doce
(2) Intensamente amadeirado: carvalho, tabaco, torrada, alcatrão
(3) Envelhecimento em garrafa: trufa, cogumelo, terra, couro, cedro, caixa de charuto

Fonte: Professional friends of wine, Cellarnotes.net, Estadao.com.br.

Próxima Degustação: "Merlot da América do Sul" (1ª Rodada)

Programa: Salentein 2001 (Argentina), Concha y Toro Marques de Casa Concha 2002 (Chile), Santa Helena Selección del Directório 2002 (Chile), Cousiño Macul Reserva 2003 (Chile), Miolo Reserva 2004 (Brasil).




Temas literário e musical: a definir.

Roteiro gastronômico: a definir.

Local e Horário: Casa do Guedes, Sábado, dia 14 de janeiro de 2006, a partir das 18h30min.

Investimento por pessoa: R$ 30.

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