A Confraria de Vestido Novo

A Confraria foi ao shopping [galeria em Paris, é claro] para dar uma repaginada geral. Comprou novas vestes, bordados e tecidos. Na bolsa, ainda trouxe as dicas da confraria para a festa! Com isso, pretende inaugurar uma nova fase em sua vida... mais agitada, diria!

A idéia agora é torná-la um palco intenso de informações e prazeres sobre este nosso mundo tão adorável do vinho. Para isso, está convidando os nossos confrades e leitores para que participemos mais e mais das atividades. Vamos transformá-la em um grande banquete de inspirações e ótimos textos!

A casa está mudada! Venham todos... beber... degustar... sorrir... e postar!


Como meu primeiro post, deixo aqui uma citação tirada de um texto escatológico judaico do século I d.C., chamado Apocalipse de 2 Baruc. A passagem trata da recompensa para aqueles que herdarão o Reino de Deus:

"A terra também dará o seu fruto, uma miríade por um: em cada vinha haverá mil sarmentos e cada sarmento produzirá mil cachos; cada cacho produzirá mil grãos de uva, e cada grão produzirá um barril de vinho."


Que coisa maravilhosa heim, meus amigos!




Vinho e Bíblia


E para aqueles que gostam de saber como a bíblia trata da temática do vinho, elaborei um texto com todas as citações bíblicas referentes ao tema. Elas foram agrupadas por tipos de referência, quer neutras, quer condenando o excesso ou tecendo elogiosos comentários sobre o bebida. O texto traz ainda uma apreciação sobre as palavras hebraicas e gregas referentes ao vinho, tendo por fim uma breve explicação sobre o processo de fermentação e produção vinícula na antiga Palestina. Recomendo e muito a leitura dos versículos aqui!


Is 25,6: “Iahweh dos Exércitos prepara para todos os povos, sobre esta montanha, um banquete
de carnes gordas, um banquete de vinhos finos, de carnes suculentas, de vinhos depurados.”

Os preferidos de 2007 – Parte II

O substantivo latino elegantia deriva do verbo eligere: eleger, escolher. Daí remeter ao que exprima bom gosto, distinção, delicadeza – ao que é bem proporcionado, harmonioso, preciso – ao que é na medida justa e revela estilo próprio. A primeira de suas acepções em Le Nouveau Petit Robert: “qualidade estética que se reconhece em certas formas naturais ou criadas pelo homem cuja perfeição é feita de graça e simplicidade”. Falando nomeadamente de vinhos, em recente entrevista, o célebre produtor piemontês Angelo Gaja foi categórico: “a elegância é o contrário da opulência”. É bem isso? Pareceu-me, ao lê-lo, que sim. Ao refletir sobre vinhos e sobre tanto mais, coisas e gentes, pareceu-me decididamente que sim. Que seja então esta segunda parte de minha vagarosa e comprida seleção de preferidos uma singela ode à elegância. Saúde!

Château La Tour de By 1999 (Medoc - Cru Bourgeois Superieur) – Um dos vinhos que mais me encantaram em 2007, este é um corte tradicional de Cabernet Sauvignon (60%), Merlot (35%) e Petit Verdot (5%), provenientes de vinhas com idade média de 40 anos, em solo de argila densa sob cobertura gravelosa. Estagia por 12 meses em barricas (1/3 novas). Bordalês em estilo bastante clássico, cada vez mais difícil de encontrar: rubi não muito intenso com algum reflexo, menos extração, médio corpo, muita delicadeza e elegância em todos os sentidos. Buquê bastante rico, com fruta vivaz (cassis, mirtilos) envolvida por notas minerais e sutilmente terrosas, ervas dessecadas (tabaco), leves sugestões florais, além de um agradável tostado. Evolui magnificamente no copo. No paladar, tudo muito bem proporcionado, taninos sedosos, nervo excelente, a pedir a companhia de um belo prato. Final interminavelmente delicioso. Para beber já ou guardar com esperança de que ainda haja o que melhorar. (*****) (18)

Villa Russiz Sauvignon Blanc 2004 (Collio – Itália) – Excelente vinho. Encanta desde o início. O estilo “velho mundo” é garantido, além do terroir e outras razões, pelos onze meses sur lie (contato com as leveduras) após a fermentação em temperaturas um pouco mais altas (em torno de 19°C), diversas do estilo “novo mundo”. Notas animais e minerais, além de um fino toque herbáceo, não escondem a fruta, que entretanto não domina. Há elegância, frescor e belíssimo retrogosto. Abre o apetite! Para beber não muito frio (entre 12 e 14 graus centígrados). (*****) (18)

Salton Talento 2004 (Tuiuti – RS – Brasil) – Bela cor rubi, densa, quase sem reflexo. Sem aeração, já mostra grande intensidade em frutas escuras (ameixas, amoras e cassis) e cacau. Ao fundo, sugere hortelã. Evolui para tabaco e sutis notas terrosas. Estas ampliam-se, a lembrar cogumelos. Bela fruta, elegante, copiosa. Com mais tempo a respirar, surgem notas de café e chocolate, cravo, couro e ainda violeta. No paladar, que elegância! Muito macio, confirma grandemente as impressões reveladas pelo buquê; suavemente apimentado, bela acidez frutada. Longa permanência gustativa com notável qualidade. Grande vinho! (*****) (18)

T Quinta da Terrugem 2001 (Alentejo – Portugal) – Corte de Aragonês (90%) e Trincadeira Preta (10%), que estagia 12 meses em barricas novas de carvalho francês. Bela cor púrpura. Um dos melhores alentejanos que bebi ultimamente. Estilo moderno, como tem sido comum aos vinhos da região, mas revela notáveis personalidade e elegância, apesar dos seus 14° de álcool. Buquê sedutor, com camadas de frutas escuras, condimentos finos e notas de torrefação. No palato, sedoso, delicioso e pertinaz. Um vinho para memorar. (*****) (18)

Chardonnay Lote I Villa Francioni 2004/2005 (Santa Catarina) – Que belo branco nacional, o melhor que já bebi. Bela cor amarela, tendendo ao dourado, resultado de sua criação por oito meses em barricas novas de carvalho francês. Elegante, expressivo, intenso, longo, com muito boa fruta acompanhada por sugestões de manteiga, pão tostado, algum condimento, canela, mel e chocolate branco. Impressiona muito e foi apenas a première. (*****) (18)

Antonin Guyon Savigny-Les-Beaune 03 - Intensa cor rubi com leves reflexos castanhos. Bela complexidade olfativa e notável tipicidade borgonhesa, com decididas notas trufadas, couro, frutas vermelhas (frescas e maduras), ervas secas, e um agradável frescor final. Muita personalidade no palato, elegância e certa austeridade, a sugerir que o vinho tem ainda muito o que crescer na garrafa. Um fim de prova quase interminável, memória viva de um belo vinho. (*****) (18)

Faveley Clos de Myglands 1998 (Mercurey Premier Cru Controlée – Monopole – Récolte du Domaine) – Belo borgonha deste conceituado produtor. No olfato, inicia com sugestões de frutas de bosque fresca e madura (cereja, framboesa, morango), evoluindo para notas bem terrosas e de couro molhado (compondo uma referência costumeira a estábulo), molho de funghi secchi, figo em calda e fumo (cachimbo). Fim de copo remetendo a goiabada, geléia de morango e mel com própolis. Na boca, corpo de leve a médio, nervo muito marcante, elegância, vocação gastronômica. Prevalecem no paladar as notas terrosas e o couro. Ótima persistência. (****) (17,5)

Pinot Gris Paul Blank 2003 (Alsácia) – Muito gostoso este vinho: ataque aromático bem floral, abrindo-se ainda em notas minerais e cítricas. Delicado, bom frescor, fácil de beber. Ótima persistência olfato-gustativa. (****) (17)

Franz Haas Pinot Nero 03 (Alto Adige – Itália) – Chama atenção logo pela cor, bem clarinha, rosada, mas já com reflexos granada. No nariz é uma bela surpresa: intensas notas fumadas entremeadas por sugestões de fruta fresca e também de compota, ainda a restar um toque sutilmente terroso, muito agradável. O paladar confirma as impressões olfativas e ainda revela um vinho elegante e com grande vocação para a mesa. O fim de prova é ótimo e o copo vazio não pára de lembrá-lo. (****) (17)

Quinta dos Quatro Ventos 2003 (Douro - Portugal) – Outra bela surpresa. Superior ao 2002, que já foi degustado em um dos encontros de nossa confraria. Corte de Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca, criado por 12 meses em barricas novas de carvalho francês e russo. Bem elegante, apesar dos 14° de álcool. No nariz, fumo, chocolate, resina, couro, notas tostadas, especiarias doces (cravo, canela) e picantes (pimenta, nós-moscada), vegetais cozidos (azeitona), muito boa fruta e notas florais (violetas) desde o ataque. Em boca, ótimo, macio, estruturado, sem excessos. Ótimo fim de prova, longo, com ligeiro amargor. (****) (17)

Brunheda 2001 (Douro - Portugal) – Corte de quatro castas tradiconais (Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca e Tinto Cão), que estagia por 12 meses em barricas novas de carvalho francês. Combina força e elegância. 13° de álcool, boa extração, bela cor rubi escuro com reflexos levemente atijolados, muita fruta madura, muito floral (violetas), evoluindo para resina, terra molhada, couro, condimentos, chocolate amargo, café, canela. Na boca, ótima acidez, bela estrutura, confirmando impressões visual-olfativas. Ótimo fim de prova. (****) (17)

De Martino Single Vinyards Sauvignon Blanc 04 (Casablanca – Chile) - Foge a toda expectativa em relação aos – diga-se de passagem – bons vinhos feitos com essa uva neste vale chileno. Notas vegetais e fumadas sobrepõem-se ao elemento cítrico (um fundinho de limão siciliano), e não surge nenhum aroma de maracujá. Bom em boca e no fim de prova. Pede um bom salmão grelhado. (****) (16,5)

Os preferidos de 2007 - Parte I

“Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas envelhecer.”

(Carlos Drummond de Andrade, em Passagem do Ano)


Parece que revisar o ano que passou, fazer balanços e, especialmente, eleger os destaques disso e daquilo, constitui inarredável e curiosa doidice universal. Se há de ter algum sentido, pois muita gente se mete nisso e sempre, vou fazê-lo também, naturalmente ao meu modo, como quem divisa o que merece viver em sua memória almost full.

Bebi belos vinhos no ano que passou, e as provas que faço, registro-as quase todas, desejoso de compartilhá-las na melhor ocasião. Os caldos aqui referidos e comentados obtiveram notas entre 16 e 17,5 (quatro estrelas: ótimo vinho) ou entre 18 e 20 (cinco estrelas: excelente vinho ou, no limite, excepcional), numa escala em estilo europeu, de 0 a 20 pontos. Mas o mais importante é que esses eleitos foram sempre os que mais me alegraram, intrigaram ou surpreenderam. Como a lista se fez espaçosa, divido-a em algumas partes desiguais, sem uma ordem patente, cada qual com uma certa conjunção de origens e estilos.

É isso. Espero que gostem das escolhas e possam apreciar os vinhos.

Sassicaia 2003 – Mítico vinho da Tenuta San Guido, da região toscana de Bolgheri, na Itália, composto, à bordalesa, de Cabernet Sauvignon (85%) e Cabernet Franc (15%). A safra foi excelente e os vinte e quatro meses de criação em barricas de carvalho francês, um terço novas, conferem-lhe notável estrutura, sem lhe encobrirem as vivas impressões frutadas, no olfato e no paladar. Muito jovem ainda (quase um pecado bebê-lo assim tão cedo), abriu-se aos sentidos lentamente, mesmo depois de arejar por mais de uma hora, contudo já revelando um buquê complexo e instigante. Às sugestões de frutas vermelhas, somaram-se notas de condimentos, mentol e vegetais cozidos, amplamente confirmadas no palato, que revelou também taninos de excelente qualidade e um fim de prova bastante longo e agradável. Uma jóia, que merece ser guardada com paciência, para brilhar na ocasião precisa. (*****) (18)

Prunotto Costamiòle Barbera D’Asti 1997 – Barbera excepcional desta importante vinícola que hoje é propriedade da Marchese Antinori, afinado em barricas de carvalho Allier por doze meses, que revelou um buquê intenso e rico em frutas maduras, especiarias doces, licor de cacau e muito mais. Um vinho denso, com ótimo nervo, elegante, vivo, de muita personalidade, no ponto para sorver-se, aos seus dez anos de idade. (*****) (18)

Château La Pointe 2000 (Pomerol) – Corte de Merlot (75%), Cabernet Sauvignon (15%) e Cabernet Franc (10%), que maturam por cerca de 18 meses em barris de carvalho (1/3 novos). Os vinhedos, de solos saibroso, saibro-pedregoso e argiloso, assistem no sudoeste de Pomerol, região próxima a Libourne. No início, o vinho rubi escuro, quase sem reflexo, aparece muito fechado, com notas de baunilha e alguma fruta vermelha (groselha). É preciso não ter pressa, pois se há de acender em seguida, revelando complexos aromas trufados, tostados e apimentados, para depois sugerir caixa de charuto, folha de tabaco, outra vez frutas vermelhas, além de agradável toque mentolado. É uma garrafa para algumas horas depois de aberta. Taninos ainda bem sensíveis, mas de ótima qualidade, sugerindo que o vinho vai arredondar se guardado por mais uns anos. Bela presença gustativa, confirmando as impressões olfativas. Excelente fim de prova. (*****) (18)

Chateau Lascombes 1998 (Margaux Grand Cru Classé) – Outro belo Bordeaux, agora da margem esquerda. Entram na cuvée 50% de Cabernet Sauvignon, 30% de Merlot, 5% de Cabernet Franc e 5% de Petit Verdot. Muito equilibrado, com ótima estrutura, já pronto, com taninos de primeira, que ainda permitem longa guarda. Abriu-se rápido, com intensidade e complexidade marcantes (boa fruta silvestre madura, notas vegetais, mentoladas, e ainda especiarias, condimentos, couro e fumo). Ótima acidez, aveludado, apimentado e mentolado, com um belo fim de prova – no nariz, no paladar e no copo já vazio. (*****) (18)

Chateau Carbonnieux Blanc 1999 (Grand Cru Classé de Graves) – De visual amarelo-limão tendendo ao dourado, este belíssimo Pessac-Leognan, composto de Sauvignon Blanc (65%), Semillon (34%) e Muscadelle (1%), revela, já de partida, notáveis elegância e força. Delicado no ataque, todavia expressivo, ressalta as notas do carvalho francês e as minerais. Abre-se em mais sugestões minerais, e ainda damasco, pêssego, abacaxi cristalizado, manteiga de garrafa, mel, canela e outras especiarias doces, além de uma nota cítrica (limão siciliano). Excelente acidez, tudo muito bem arrumado. (*****) (18)

De Martino Single Vineyards Pinot Noir 2004 – Impressionou-me muito bem este Pinot: bela cor (rosa escuro tendendo levemente ao granada), ótima estrutura, instigante buquê: frutas silvestres entremeadas por notas terrosas, de folhas secas, balsâmicas e especiadas. Nada de fruta em compota. 13,5 de álcool. Uma ponta de austeridade, que talvez se deva à vinificação com o engaço ou parte dele, confere-lhe estrutura e sugere longevidade. Longo final de prova. Um belo Pinot Noir de Casablanca, um dos melhores de fora da Borgonha que já bebi. (*****) (18)

Miolo Merlot Terroir 2004 (Vale dos Vinhedos - Brasil) : Bela cor rubi muito intensa, com sutis reflexos violáceos. Encanta olfativamente desde o primeiro ataque, pela delicadeza e por intensidade e complexidade crescentes. Lembra mesmo um Pomerol entre o clássico e o moderno, o que se há de confirmar em boca. Sugestões de boa fruta madura, notas condimentadas cada vez mais aparentes, muitas especiarias e um leve toque mentolado. Ainda: café, chocolate, tostado, numa síntese muito aprazível e sedutora. No paladar, elegante até o último gole, bela acidez frutada, nenhuma aresta e muita personalidade. Taninos de excelente qualidade, a conferir-lhe uma textura muito aveludada. Belo fim de prova e o copo, mesmo desocupado, não sossega por um bom tempo. Realmente, merece os inumeráveis elogios que vem recebendo. (*****) (18)

De Martino Single Vineyards Cabernet Franc 2002 (Maipo) – Este De Martino é igualmente impressionante: fruta fácil, especiarias, terra, notas vegetais, tabaco, mentol, bom nervo, muito vivo e muito elegante, facílimo no paladar. Uma beleza! Excelente fim de prova. (*****) (18)

Terrazas Reserva Malbec 2002 – Belo vinho. Aquela cor rubi escura, densa, típica dos vinhos feitos com esta cepa em Mendoza. Mas difere da média dos argentinos por várias razões: não tem 14,9 ou 15° de álcool, mas 13,5, é extremamente elegante, tem um frutado típico (amoras, ameixas pretas e passas) mas sem exuberância indomada, e envolvido por evidentes e progressivas (o vinho vai-se abrindo) notas florais (recordaram-me violetas, rosas e flor de laranjeira) e um leve toque balsâmico, lembrando muito curiosamente alguns exemplares de Touriga Nacional alentejanos. Há um fundo achocolatado que também não dá o tom, mas compõe muito agradavelmente. Não é “doce” demais, nem tem sabor de geléia de morango e framboesa. Para completar, tem nervo bem na medida. Um bom fim de prova, com média persistência. Era a segunda e última garrafa de nossa adega. A primeira, bebemos já deve haver um ano ou mais. Gostei muito dela, mas penso que o tempo beneficiou esta segunda, que estava no ponto e sem poréns. (****) (17)

Fournier Puilly-Fumé 2004 (Loire) – Fumado típico da Sauvigon Blanc da região, seco, com frescor e vivacidade, notas minerais e um toque levemente untuoso, boa presença no palato e elegância. Bom fim de prova. (****) (16,5)

La plus que lente

“Deus goza sempre de um prazer único e simples. Com efeito, não existe somente uma atividade do movimento, mas existe também uma atividade da imobilidade, e o prazer está mais no repouso do que no movimento.”

Aristóteles, Ética a Nicômacos


Demos-nos bem eu e o vinho nesse ano já havido, malgrado as objeções feitas pelo tempo, pela lida diária e seus afazeres numerosos, ou por demais embaraços, como aqueles às vezes impostos pelo corpo. Mas o vinho, sempre que se lhe permitiu, esteve lá: conferiu cadência ao que era só roda-viva, sentido de contemplação ao reino da função e da atividade. Sorveu-se como é devido: com vagar, rito e zelo, pois é companhia que pede companhia: a boa mesa, a palavra livre, a música mais bela, a melhor convivência. O bom vinho nem é uma bebida e só: é uma identidade e uma comunicação, vívida expressão de uma terra, de uma arte e de uma cultura. Este espaço, como a Confraria que o originou, esteve a hibernar por longo período, mas agora pretende, no compasso da Valse do genial Debussy, retomar-se nos entremeios do corre-corre ordinário, fingindo-se coadjuvante, enquanto se esforça por dilatar as horas que lhe cabem: as da celebração da vida.

Saúde, caros confrades!