"The Sideways Effect"

Sideways (diretor: Alexander Payne, 2004), vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado e de seis troféus no circuito de cinema independente americano - The Independent Awards - influencia um mercado que movimenta US$20 bi por ano, o dos vinhos americanos. Quem assistiu ao filme, já sabe do que estou falando. O protagonista, um professor deprimido e neurótico mas apaixonado por vinhos (Paul Giamatti), detesta merlot, os vinhos mais populares nos Estados Unidos nos últimos 15 anos, e adora os pinot noir, até então um rival muito menos favorecido.

Numa viagem com um amigo por uma região vinícola perto de Los Angeles, Miles, o personagem de Giamatti, apaixona-se por uma estudante (Virginia Madsen) e declara a ela que o bouquet do pinot é "o mais assombroso e brilhante e excitante e sutil e... antigo no planeta". E se recusa a beber o merlot com um sonoro palavrão. Resultado: entre outubro (2004), quando Sideways foi lançado nos Estados Unidos, e janeiro (2005), quando o filme recebeu o prêmio dos críticos de cinema, as vendas de merlot caíram pela metade no oeste americano. Em contrapartida, as vendas de pinot noir através do país se multiplicaram e muitos apreciadores de vinho trocaram o pinot francês pelo californiano. This is what the American wine industry called the Sideways effect.

Pinot é uma uva difícil de se acertar, como já foi mencionado no post do Edinho e também no meu. Por causa disso, muitos críticos costumam aconselhar: "Você estará melhor com um merlot barato e seguro do que com um pinot barato, mas sem segurança." Miles pediria perdão por discordar. Ele passa parte do filme instruindo Jack (Thomas Haden), o amigo bobão que está prestes a se casar, sobre a fraqueza da uva merlot e as virtudes da pinot noir. A ponto de, antes de um jantar, avisar: "Se alguém pedir merlot, vou embora. Não vou me juntar ao lado negro."

Como já descobri, vinho, política e religião não se discutem. Espero que através dessa seqüência de varietais - cabernet sauvignon, pinot noir e merlot - proporcionada com tanto carinho pela Flávia e pelo Edinho, em nossos encontros na Confraria, cada um saboreie avidamente essas experiências e tire suas próprias conclusões. Como todos somos fãs de cinema, aí vai a opinião do grande Francis Ford Coppola. Entusiasta das variedades merlot e cabernet da região de Napa Valley, Califórnia, ele respondeu num resmungo à pergunta sobre o que achava do "efeito Sideways": "Bebo pinot noir, adoro os melhores, mas não vou incentivar isso. É tudo um truque".
Será? É o que vamos conferir - deliciosamente - nessa próxima degustação.


Merlot: breve perfil

Essa cepa de uva é prima do cabernet sauvignon. Possui um sabor bem similar a esse embora apresente características taninicas mais leves e seja também levemente mais herbácea - leia-se: ervas - tanto no aroma quanto no sabor.

O amadurecimento é um ponto crítico e é justamente por amadurecer mais rapidamente que o cabernet que o merlot se afasta de um sabor frutado e segue em direção à um sabor e aromas mais herbáceos.

A acidez natural e a adstringência do merlot são menos presentes do que no cabernet (talvez por isso que os caipiras da América do Norte gostem tanto - como já ficou claro, trata-se de um vinho mais leve em vários sentidos, deixando no paladar "uma boca mais viçosa").


Descrições típicas de aroma e sabor:

Varietais aromas/sabores:
(1) Frutado: groselha, cereja, ameixa
(2) Floral: violeta, rosa
(3) Tempero: caramelo, cravo-da-índia, folha de louro, pimenta verde
(4) Ervas: pimenta, azeitona verde
Bouquets processados/sabores:
(1) Levemente amadeirado: baunilha, côco, madeira doce
(2) Intensamente amadeirado: carvalho, tabaco, torrada, alcatrão
(3) Envelhecimento em garrafa: trufa, cogumelo, terra, couro, cedro, caixa de charuto

Fonte: Professional friends of wine, Cellarnotes.net, Estadao.com.br.

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