Degustação "Pinot Noir no Mundo" (1ª rodada): resultados

A degustação Pinot Noir no Mundo (1ª rodada) ocorreu no dia 26 de novembro, das 19h40min à 1h40min, na Casa do Guedes, e teve a seguinte programação:

Vinhos: Bourgogne Cuvée Latour (Louis Latour) 2004 (França), Miolo Reserva 2004 (Brasil), Morandé Pionero 2001 (Chile), Hunter´s 2003 (Nova Zelândia), Glen Carlou 2003 (África do Sul).

Roteiro gastronômico: Queijos (gruyère de dois produtores, parmesão mineiro fresco e meia-cura e parmesão montanhês), pães (baguete francesa, focaccia, pão de campanha e pão italiano de fermentação natural), azeitona azapa chilena e patês (tomates secos com base de requeijão, tomates secos com base de ricota e creme de leite e peito de peru defumado). Sobremesa: pudim de leite condensado (cortesia da Myla). Roteiro musical: trilha diversa, preparada pelo Rodrigo, que ia desde Chet Atkins, Madeleine Peyroux, Jane Monheit, passando por Stacey Kent e Yann Tiersen, até Celso Fonseca e Caetano Veloso. Roteiro literário: Sentimento do mundo, sentimento de aldeia. Li “O rio que corre pela minha aldeia”, de Caeiro, e Rubner leu “Sentimento do mundo”, de Drummond.

Estiveram presentes: Édil Guedes, Flávia Guedes, Myla Fonseca, Rodrigo Guedes, Alexandre Guimarães, Denise Leiva, Alcione Silveira, Rubner de Abreu, Francesco Botelho e Mariana Botelho.

Os resultados da degustação:

1°) Morandé Pionero 2001 – 86 pontos.
2°) Hunter’s 2002 – 85 pontos.
3°) Miolo Reserva 2004 – 83 pontos.
4°) Glen Carlou 2003 – 82 pontos.
5°) Louis Latour Cuvée Latour 2004 – 78 pontos.

Comentários:

I. A degustação realizou-se às cegas, como serão todas as próximas, e teve uma dinâmica bem interessante. Ao final, depois de manifestas as notas e, só então, desvestidas as garrafas, soube-se a ordem dos vinhos sorvidos: Cuvée Latour, Morandé Pionero, Hunter´s, Miolo Reserva e Glen Carlou.

II. O campeão da noite, um exemplar da linha econômica Pionero da vinícola chilena Morandé, produzido no Vale de Casablanca a partir da excelente safra de 2001, impressionou pela ótima qualidade, confirmando o potencial da região para a produção de vinhos de Pinot Noir, e pela muito boa relação custo/benefício ou preço/nota (0,28). Cabe registrar que este era o vinho com mais tempo de garrafa, o que se confirmou nas impressões olfato-gustativas dos provadores. Estava, provavelmente, no estágio cimeiro de seu amadurecimento. Embora tenha sido de apenas um ponto a diferença para o segundo colocado, foi considerado o melhor vinho por seis dos dez degustadores e o conjunto de suas notas individuais teve o menor desvio-padrão (3,71 pontos). Características organolépticas, segundo anotações dos presentes: “aroma de fruta madura, estábulo, couro (um pouco); na boca: algo doce no início e no retrogosto, pouca madeira, bem nervoso” (EG); “jaca, madeira” (RG); “cheiro forte, gostoso” (RA); “fruta e azedo junto, bolor” (MB), “jaca, pinha, madeira (mas não muita)” (FG). Dados técnicos: o site da Morandé não informa se há passagem por madeira, de que origem, e por que período. É de se supor, por suas características, que tenha passado todo o vinho ou parte dele por um pequeno amadurecimento em carvalho e em garrafa.

III. O segundo colocado da noite, o neozelandês Hunter´s, da excelente safra de 2002, ficou, como se disse, à distância de um ponto do primeiro colocado. Foi o vencedor para três degustadores: Alexandre lhe conferiu o primeiro lugar isolado; já Flávia e Mariana lhe atribuíram, junto com o Glen Carlou, a maior pontuação: 88 pontos, para ambas. Foi o segundo colocado para outros quatro: Rubner, Denise, Myla e Édil. O desvio-padrão das notas foi 5,21. Custo/benefício: 0,89. Características organolépticas: “madeira, corpo acima da média, leve adstringência, macio, ferrugem, final muito agradável, levemente doce, menor persistência retroolfativa” (EG); “jaca (aroma), baunilha, mais madeira” (FG); “menos marcante, mais harmônico, madeira” (MB). Dados técnicos: o vinho amadurece por 9 meses em carvalho francês (20% novo).

IV. Em terceiro, ficou o Reserva da brasileira Miolo, a dois pontos do segundo, três do primeiro e um do quarto colocado, mostrando como o nível dos vinhos estava parelho. Chama a atenção por resultar da excelente safra de 2004, a segunda melhor da nossa história (pois foi superada pela de 2005), e por também apresentar ótima relação custo/benefício: 0,27, a melhor dentre os vinhos degustados. Desvio-padrão das notas: 4,92. Características organolépticas: “baunilha, chocolate, café, ameixa seca, nervoso, untuoso, mais corpo, licor (de chocolate)” (EG); “mais ácido, baunilha, chocolate” (FG); “mais equilibrado, mais forte” (MB). Dados técnicos: 40% do vinho estagia em barricas de carvalho americano; o restante, nos tanques de inox. É engarrafado jovem, no mesmo ano de sua fabricação.

V. O sul-africano Glen Carlou, da também excelente safra de 2003, agradou por seu aroma muito intenso e frutado e persistente. Foi o primeiro lugar também para três provadores: Édil, que lhe conferiu 89 pontos, e Flávia e Mariana, para quem este vinho dividiu o topo com o neozelandês Hunter´s. Desvio-padrão: 5,41. Custo/benefício: 0,82. Características organolépticas: “fruta mais jovem, vermelha, um pouquinho doce no fim de boca, muita persistência olfativa e gustativa, azedinho bom, final de licor” (EG). Dados técnicos: este vinho amadurece, durante 11 meses, em barricas de carvalho francês de 700 e 225 litros (25% novo e 75% de segundo uso).

VI. Por fim, aquele que foi o primeiro a ser degustado: o Cuvée Latour, borgonha genérico do bem conceituado produtor Louis Latour. A safra de 2004 foi apenas boa, e este jovem vinho mostrou-se correto, agradável, fácil de beber, mas sem grande destaque. Ficou em quinto lugar para 7 dos provadores. Desvio-padrão: 6,11. Custo/benefício: 0,92. Características organolépticas: “frutado (frutas vermelhas: cereja e amora), jovem, acidez boa, pode amaciar um pouco ainda” (EG); “fraco, suave” (MB); “o mais fraco” (RA); “aroma de amora, gosto de carambola, frescor” (FG); “amora” (ACS, RG, MF). Dados técnicos: o site da Maison Louis Latour não dá qualquer detalhe sobre a vinificação, registrando apenas “métodos tradicionais”. Deve ter, todo o vinho ou parte dele, um pequeno estágio em madeira, como o Miolo e o Morandé.

VII. Notas já atribuídas a estes vinhos por outras publicações, sites, críticos etc.: Morandé Pionero 2001: 84 (Wine Enthusiast: www.winemag.com); Hunter’s 2002: 87 (Wine Spectator: www.winespectator.com) e *** (Decanter: www.decanter.com); Miolo Reserva 2004: *** (Vinho Magazine) (os de safra 1999 e 2003 receberam, respectivamente, 86 e 82 da ABS-SP: www.abs-sp.com.br. Em degustação da revista gula, um Miolo de safra 2001 concorreu com 12 vinhos de Pinot Noir de países diversos e ficou com ****, em segundo lugar). No Guia de Tintos e Brancos, de Saul Galvão, recebe de *** a **** ("Um vinho de primeira"); Glen Carlou 2003 (não se encontraram registros; o de safra 1994 recebeu nota 87 da Wine Spectator); Cuvée Latour 2004 (também não se encontraram registros; os de safras 1989, 1990 e 1992 receberam, respectivamente, 80, 86 e 74 da Wine Spectator).

Preços:

Morandé Pionero – R$ 23,90 (Champion Gutierrez - BH)
Hunter’s – R$ 84,20 (Boníssima - BH)
Miolo Reserva – R$ 22,90 (Casa Rio Verde - BH)
Glen Carlou – R$ 68,10 (Grand Cru - BH)
Cuvée Latour – R$ 71,40 (Casa do Whisky - BH)