Pinot Noir: da Borgonha para o Mundo

Casta cultivada na famosa região da Borgonha, responsável por todos os seus vinhos tintos (exceto em Beaujolais, cujos tintos se produzem com a Gamay Noir), é também uma das três uvas utilizadas na produção dos espumantes de Champagne. No coração borgonhês, a Côte D’Or, a Pinot Noir produz alguns dos mais preciosos vinhos do mundo, como o célebre – e literalmente impagável – Romanée-Conti. Descendente provável da Traminer e da Pinot Meunier, viria do mesmo genótipo da Pinot Blanc e da Pinot Gris, e seu nome ter-se-á originado do formato de pinha (pin) dos cachos e de sua coloração ligeiramente acinzentada. Os bons vinhos feitos desta cepa são de excelente expressão aromática, muito elegantes, menos escuros, menos tânicos e mais ácidos do que os de Cabernet Sauvignon, mas a Pinot Noir é uma das uvas mais delicadas e difíceis de cultivar e vinificar fora de sua zona nativa. Por exigir climas mais frios, produção pequena e controlada, e por sua fragilidade, sofre muito com as mudanças ambientais e climáticas, às vezes rompendo facilmente a casca, liberando o suco e antecipando o início da fermentação. Atualmente, suas cerca de 46 variações genéticas estão espalhadas pelo mundo, recebendo nomes distintos, como Pinot Nero na Itália, Spätburgunder na Alemanha, ou Burgundac, na Eslovênia. Algumas regiões do Novo Mundo, malgrado as dificuldades, têm-se destacado na produção de bons caldos desta uva, como Marlborough, na Nova Zelândia, Oregon, nos EUA, o Alto Valle del Río Negro, na Patagônia, Argentina, a fria zona de Walker Bay, na Africa do Sul, e o Valle de Casablanca, no Chile. No Vale dos Vinhedos, no Sul do Brasil, segundo os dados da Uvibra, foi em 2002 a sétima casta colhida, com 2,6% do total. Lá já se produzem alguns varietais de boa qualidade desta cepa, como o Dal Pizzol, o Miolo Reserva e o Valduga Seculum, destacando-se o exemplar da Miolo, que tem figurado muito bem em degustações às cegas diante de vinhos das mais conhecidas regiões do Novo Mundo e mesmo alguns borgonheses.

Fontes:

Pinot Noir: perfil

Seda líquida

Pinot noir é uma das variedades de uva cultivadas mais antigas do mundo. Os romanos antigos conheciam essa uva pelo nome Helvenacia Minor e já a transformavam em vinho no século I AC. Reconhecida mundialmente por sua excelente qualidade, a pinot noir possui denominações diferentes que variam de país a país. É cultivada na Argéria, Argentina, Austrália, Áustria (chamada de Blauburgunder ou Spätburgunder), Brasil, Canadá, República Tcheca, Inglaterra, França, Alemanha (Spätburgunder), Grécia, Hungria, Itália (Pinot Nero), México, Nova Zelândia, Suiça (Clevner, chamada de "Dole" quando misturada com Gamay Noir), Estados Unidos e Iugoslávia (Burgundac).

Bourgogne (Burgundy), na França, é a única região do mundo a atingir excelência no cultivo dessa variedade. A Côte d'Or proporciona às videiras extensa exposição ao sol, embora evite o excesso de calor da tarde. Seu solo é bastante calcário, o que oferece ótima drenagem. Conseqüentemente, a temperatura média das videiras permanece alta, favorecendo seu amadurecimento. A pinot noir parece refletir mais do que todas as demais variedades de uva escura a Gout de Terrior, isto é, o "sabor do solo". Portanto, a escolha do local de cultivo é crucial.

Dificuldades diversas assolam a pinot noir já a partir do primeiro momento, desde sua propagação até seu processo de envelhecimento. Geneticamente ins-tá-vel, é possível que uma cepa primordial gere uma descendência bastante diferente, tanto no que se refere ao tamanho e forma das uvas quanto ao aroma, sabor e níveis de produtividade, em relação à geração progenitora. Existem 46 cepas clonadas reconhecidas dessa variedade apenas em Dijón, França; no mundo todo, estimativas variam entre 200 a 11.000 clones de pinot noir. Por comparação, a cabernet sauvignon possui somente 12 cepas clonadas identificáveis.

É também uma das uvas mais difíceis de se fermentar. Devido à presença de 18 aminoácidos - naturalmente harmonizados nessa variedade - a pinot noir fermenta violentamente, o que acelera e dificulta o controle desse processo. Retenção de cor é outro obstáculo: suas cascas são muito finas. Além disso, a pinot noir pode muito facilmente transformar-se em uma mistura acética (vinagre) ou perder grande parte dos aromas e sabores que apresenta durante o processo de fermentação e envelhecimento, logo que engarrafada. Entretanto, apresenta de três a quatro vezes mais resveratrol/reversterol - polifenol que protege nosso coração - do que as demais variedades.

A pinot noir causa forte impressão no paladar e na memória. Seu aroma pode ser intenso, de uva madura, levemente apimentado ou de (madeira de) cerejeira. Tomate maduro (note que nosso tomate, diferentemente do europeu e do americano, é muito mais ácido), cogumelo e madeira são os aromas freqüentemente mais descritos referentes à essa variedade. Encorpada e enriquecida, embora leve, de alto teor alcóolico - embora nem ácida nem tâninica -, a pinot noir apresenta um sabor personalíssimo, apesar de sua delicadeza. Sua qualidade mais marcante parece ser sua textura leve e aveludada. Quando bem saboreada, é como seda líquida a acariciar nosso palato. Possui longevidade menor do que a das demais uvas escuras e atinge seu ponto máximo de 5 a 8 anos passados da safra.

Pinot Noir: Descrições típicas de aroma e sabor

(1) Varietais aromas/sabores: cereja, morango, framboesa, tomate maduro
(2) Floral: pétala de rosa, violeta
(3) Tempero: alecrim, canela, pimenta, cominho
(4) Ervas: orégano, tomate verde, chá verde, azeitona preta, ruibardo
(5) Terra: cogumelo, terra, trufa, couro
(6) Levemente amadeirado: baunilha, côco
(7) Intensamente amadeirado: carvalho, tabaco, alcatrão
(8) Envelhecimento em garrafa: cedro, cigarro, charuto

Fonte: Professional Friends of Wine

Tradução e adaptação: myla

Primeira degustação: resultados

A degustação inaugural da Confraria do Guedes ocorreu no dia 5 de novembro, das 19h40min à 1h20min, na Casa do Guedes, e teve a seguinte programação:

Tema: Cabernet Sauvignon Brasileiro (1ª Rodada)

Vinhos: Salton Classic Reserva Especial 2002, Miolo Reserva 2002, Salton Volpi 2002, Casa Valduga Premium 2002, Miolo Quinta do Seival 2004.

Roteiro gastronômico: queijos (estepe, parmesão e canastra mineiros curados), pães (baguete francesa, pão de campanha e pão italiano de fermentação natural) e patês (beringela, tomates secos e pasta indiana). Roteiro musical: violão popular brasileiro (Geraldo Vianna, “Solos de Violão”, Juarez Moreira, “Solo”, Raphael Rabello, “Todos os Tons”, Beto e Wilson Lopes, “Nossas Mãos” e Marco Pereira, “Valsas Brasileiras”). Roteiro literário: vinho, Wein, vin, wine, vino.

Estiveram presentes: Édil Guedes (fundador), Flávia Guedes, Flávio Souza Cruz, Myla Fonseca, Rodrigo Guedes, Alexandre Guimarães, Denise, Dôra Morais e Marcelo Silveira, todos estes os atuais membros titulares da Confraria.

Os resultados da degustação:

1°) Miolo Quinta do Seival 2004 – 89 pontos.
2°) Casa Valduga Premium 2002 – 83 pontos.
3°) Salton Volpi 2002 – 81 pontos.
4°) Miolo Reserva 2002 – 79 pontos.
5°) Salton Classic 2002 – 77 pontos.

Comentários:

I. A nota final considerada foi a mediana, e não a média aritmética das notas atribuídas pelos degustadores presentes, com o propósito de se evitarem distorções importantes. O campeão da noite, o Quinta do Seival Cabernet Sauvignon 2004 da Vinícola Miolo mostrou-se, de fato, surpreendente, revelando uma vez mais o notável desenvolvimento do vinho brasileiro: bela estrutura, muito equilibrado, fino e elegante buquê, taninos já bem aveludados, além de evidenciar bom potencial de evolução. Foi, além da maior nota, que o colocou no limiar da categoria dos excelentes, o menor desvio padrão entre as notas individuais: 1,91 pontos. Uma curiosidade: consumimos a garrafa de número 181, de uma edição limitada em 40.000 garrafas. Mas o registro mais interessante, em se tratando de nossa degustação inaugural e do vinho vencedor da noite: foi a primeira garrafa comprada em uma adega de Belo Horizonte. Antes de o vinho chegar às prateleiras, contatei o representante da Miolo, que me informou o número do telefone do escritório da casa Rio Verde, onde consegui reservar-nos um exemplar.

II. Quanto à relação custo/benefício (aqui representada pela razão preço/nota), o vencedor, disparado, foi o Salton Classic 2002, com 0,18 (quanto mais baixo o valor do indicador, melhor a relação). Evidentemente, essa é uma avaliação sugestiva e interessante, mas extremamente imperfeita. Vale apenas para se ter claro que se trata seguramente de um bom produto por um preço muito razoável. Mas juízo de gosto e satisfação não são coisas passíveis de mensuração desenfreada, sem qualquer esforço crítico e algum senso de humor. Um vinho que recebesse a nota 40 (nível insatisfatório) e fosse vendido por 2 reais teria uma razão custo/benefício de 0,05 e seria então, sem lugar à dúvida e paradoxalmente, a melhor opção para maximizar o seu prazer! Mas, de volta ao vinho em questão, merece registro o fato de as notas individuais apresentarem aqui um dos dois maiores desvios-padrão do programa: 6,22. Obteve algumas notas que o lançaram à categoria de cima, dos muito bons, como as de Alexandre Guimarães (82) e a minha própria (82), o que reforça a relação afirmada.

III. Outros destaques: a muito boa qualidade média dos vinhos degustados (81,8); a riqueza e persistência aromáticas do Valduga Premium (o vice-campeão da noite, que, portanto, volta em outra rodada progressiva de Cabernet Sauvignon).

IV. Notas já atribuídas a estes vinhos por outras publicações, sites, críticos etc.: Salton Classic 2002: 80,5 (ABS-SP); Miolo Reserva 2002 (não se encontraram registros, mas, apenas como referência, o de safra 1999 recebeu nota 78 da ABS-SP); Salton Volpi 2002: 83,18 (ABS-SP); Casa Valduga Premium 2002 (também não se encontraram registros; o de safra 1999 recebeu nota 75 da ABS-SP); Miolo Quinta do Seival 2004: 87 (Jorge Carrara, do basilico.uol.com.br e também colunista de vinhos da Folha de São Paulo); *** (Vinho Magazine).

Preços:

Miolo Quinta do Seival – R$ 52,90 (Casa Rio Verde)
Casa Valduga Premium – R$ 32,90 (Casa Rio Verde)
Salton Volpi – R$ 20,70 (Extra Supermercados)
Miolo Reserva – R$ 22,90 (Supernosso - Gutierrez)
Salton Classic – R$ 13,50 (Extra Supermercados) e 13,99 (Casa Rio Verde)


Cabernet Sauvignon

Descendente da Cabernet Franc e da Sauvignon Blanc, a Cabernet Sauvignon é a quarta variedade escura mais plantada no mundo (no Rio Grande do Sul, em 2002, foi a segunda mais plantada, com 24,9% do total, segundo a Uvibra). É considerada a mais nobre casta tinta, adaptando-se com relativa facilidade fora de seu hábitat bordalês original. Predomina nas regiões de Haut-Medoc, Médoc, Pessac-Leognan e Graves, sendo a componente básica dos premiers grands crus classés Château Lafite-Rothschild (Cabernet Sauvignon 80 a 95%, Merlot 5 a 20%, Cabernet franc e Petit Verdot 0 a 3%. Em algumas safras, a presença da Cabernet Sauvignon é ainda mais expressiva, como 99% em 1994 e 100% em 1961), Château Margaux, entre outros. Esta cepa de grande qualidade produz vinhos escuros e tânicos quando jovens, mas que se tornam macios, equilibrados e complexos quando amadurecidos em carvalho e, depois, na própria garrafa.


Fontes:

  • Amarante, José Osvaldo Albano do. Os segredos do vinho para iniciantes e iniciados. São Paulo: Mescla, 2005
  • Site do Château Lafite-Rothschild: http://www.lafite.com.
  • União Brasileira de Vitivinicultura: http://www.uvibra.com.br.