La plus que lente

“Deus goza sempre de um prazer único e simples. Com efeito, não existe somente uma atividade do movimento, mas existe também uma atividade da imobilidade, e o prazer está mais no repouso do que no movimento.”

Aristóteles, Ética a Nicômacos


Demos-nos bem eu e o vinho nesse ano já havido, malgrado as objeções feitas pelo tempo, pela lida diária e seus afazeres numerosos, ou por demais embaraços, como aqueles às vezes impostos pelo corpo. Mas o vinho, sempre que se lhe permitiu, esteve lá: conferiu cadência ao que era só roda-viva, sentido de contemplação ao reino da função e da atividade. Sorveu-se como é devido: com vagar, rito e zelo, pois é companhia que pede companhia: a boa mesa, a palavra livre, a música mais bela, a melhor convivência. O bom vinho nem é uma bebida e só: é uma identidade e uma comunicação, vívida expressão de uma terra, de uma arte e de uma cultura. Este espaço, como a Confraria que o originou, esteve a hibernar por longo período, mas agora pretende, no compasso da Valse do genial Debussy, retomar-se nos entremeios do corre-corre ordinário, fingindo-se coadjuvante, enquanto se esforça por dilatar as horas que lhe cabem: as da celebração da vida.

Saúde, caros confrades!